Fotografia e arte contemporânea

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Foto na Arte

Objectivos:

Organizar um conjunto de eventos em Serralves para discutir de uma forma alargada as relações entre a fotografia e a arte contemporânea.

Criar as condições favoráveis para existir uma discussão participada, alargada e polémica.

Contexto:

É consensual reconhecer a importância que a invenção da fotografia, em meados do século XIX, teve na arte contemporânea e em particular nas chamadas artes plásticas. No entanto, desde então, a relação da fotografia com as artes plásticas tem sido tudo menos pacífica e tem passado por diversas fases. Desde a sua descoberta, há cerca de 150 anos, que a fotografia tem sido desde rejeitada liminarmente pelos artistas plásticos, considerada com desprezo como um processo mecânico e tecnológico e portanto não criativo, até nos nossos dias se assistir a uma dita apropriação da fotografia por muitos dos mais conceituados artistas plásticos.

Apesar de a fotografia ter cerca de 150 anos, só na década de 30 do século XX houve um autor, Walter Benjamin, que reflectiu de uma forma profunda sobre o impacto que inevitavelmente a fotografia teria na forma como a arte se posiciona na nossa sociedade. E os textos de Benjamin só na década de 60 foram traduzidos para inglês. E só no final do século XX foram reconhecidos como essenciais para compreender o novo contexto artístico, na área da fotografia, do filme e da internet. W. Benjamim compreendeu pela primeira vez que a fotografia e o filme não só ofereciam novas formas de expressão artística, como modificavam radicalmente as formas de olharmos e compreendermos as técnicas mais tradicionais. Uma pintura, que até aí só poderia ser vista pelo seu possuidor ou, quando muito, por quem visitasse a sala do museu onde estava exposta, passaria a poder ser reproduzida, centenas, milhares, milhões de vezes, com uma qualidade hoje quase insuperável, podendo ser vista por milhões de pessoas. A internet veio nos últimos anos introduzir uma nova dimensão neste processo. Seria curioso comparar a forma como as artes plásticas se adaptaram a este processo de massificação e de banalização com o que aconteceu noutros domínios da arte, como sejam a música ou a literatura mas esse é um objectivo fora do contexto deste projecto

Em Portugal, até à década de 80, a fotografia era considerada como uma arte menor, sem estatuto para conseguir entrar em muitos eventos artísticos. Era, na melhor das hipóteses recambiada, juntamente com outras formas de arte menores, todas baseadas em técnicas de reprodução, como a serigrafia ou a gravura, para pequenos espaços subalternos.

Mas, por razões diversas, assistimos hoje a essa tal dita apropriação da imagem fotográfica e do vídeo por uma nova geração de artistas plásticos. Tem havido no entanto neste processo, em meu entender, um conjunto de equívocos que revelam desconhecimento ou, pelo menos, uma continuação de um olhar conservador relativamente à fotografia, que leva por exemplo algumas pessoas, vindas das artes plásticas, a distinguir uma forma superior de fotografia, que segundo eles se não insere na história da fotografia e que nada tem a ver com a cultura da fotografia nem com a fotografia dos fotógrafos. É segundo esses autores uma fotografia, onde a técnica e qualidade pouco valem. É o que chamam a fotografia “usada” pelos artistas plásticos.

Estas posições têm conduzido nomeadamente a um olhar estreito sobre a fotografia contemporânea, valorizando projectos onde a imitação e a clonagem dos valores dominantes são aspectos evidentes, em detrimento de propostas verdadeiramente inovadoras e interessantes.

Eu tenho-me confrontado algumas vezes com estes equívocos e tenho procurado de alguma forma contribuir para uma discussão pública destas questões. No blog, ou melhor na espécie de blog que mantenho, e noutros textos que escrevi, tenho tentado, com as limitações de quem não é um teórico, reflectir sobre estas questões. Mas a discussão pública nunca aconteceu e continua a não acontecer. Pelo contrário, parece existir mesmo, em minha opinião, e ao invés do que seria, talvez ingenuamente, natural supor, um ambiente muito fechado no campo das artes, que dificulta ou mesmo impossibilita uma discussão aberta e franca destas questões.

Na sequência destas tomadas de posição, fui convidado pelo director do Museu de Serralves, reconhecendo o papel que Serralves deve ter em contribuir para uma discussão pública e sem constrangimentos de todas as questões relacionadas com a arte contemporânea, para organizar em colaboração com Teresa Siza, ex-directora do CPF, um conjunto de eventos com o objectivo de discutir de uma forma alargada as relações entre a fotografia e a arte contemporânea.

Objecto:

Um conjunto de iniciativas, ainda a definir, que possibilitem uma discussão pública e alargada sobre a fotografia e a arte contemporânea.

  • Pretendem-se confrontar pontos de vista de pessoas com formações e opiniões diversas.
  • Pretende-se uma discussão aprofundada, mas aberta a públicos alargados, ou seja a toda a gente interessada nas relações da fotografia com a arte contemporânea.
  • Pretendem-se criar um conjunto de mecanismos, que podem ir desde material impresso a blogs e a outros, que permitam dinamizar o confronto de opiniões e a discussão.

 

Meios:

A iniciativa vai ter o apoio de Serralves e utilizará as infra-estruturas disponíveis no museu. Os meios a utilizar vão depender do conjunto de iniciativas a realizar (em discussão).

 

Plano

1. Sistematização das questões chave (ponto onde nos encontramos)

Estamos, com a colaboração da Maria do Carmo Serém, a tentar reunir algum material e dessa forma listar as questões-chave a abordar e, se possível, a confrontar nesta iniciativa

2. Elaboração de um plano detalhado

Plano detalhado da iniciativa, com um orçamento, que defina o conjunto das pessoas a envolver e o conjunto de iniciativas a desenvolver

3. Preparação da iniciativa

4. Realização durante o ano de 2008

Bibliografia:

  • Fotografia na Arte – Colecção de Serralves – editado por Ricardo Nicolau

Crítica ao livro  acima em:

  • A obra de arte na era da reprodução mecânica – Walter Benjamin
  • A fotografia como documento social – Gisele Freund
  • Estética fotográfica – Joan Fontcuberta
  • Beijo de Judas – Joan Fontcuberta

Renato Roque. Janeiro 2008

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